segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Gosto de Quero Mais

 Alguns (raros) filmes conseguem fazer com que o espectador queira mais daquela trama, daqueles personagens. Quando o filme está acabando vai batendo aquela tristeza, o que acontece mais frequentemente quando lemos um livro.

 Mas para produzir continuações o mercado cinematográfico exige boas bilheterias e lucro, o que nem sempre é o caso de filmes excelentes; que contam com orçamentos baixos, distribuição restrita e lucros modestos.

 Todas as regras, contudo, sempre possuem suas excessões. Dois diretores apaixonados e seus atores fieis irão lançar em 2013 a terceira parte de suas respectivas cineséries.



 9 anos. Esse período de tempo é a chave para Richard Linklater, Ethan Hawke e Julie Delpy. Tudo começou em 1995, quando Antes do Amanhecer foi lançado sem muitas pretensões. O filme com o passar dos anos ganhou um legião de fãs e admiradores, que puderam vivenciar ali, tanto na trama como na vida real, aquele raro momento mágico onde pessoas se encontram na hora certa, no momento certo e vivem algo mágico e inesquecível.

 Em 2004 diretor e atores resolvem revisitar tudo aquilo e escrevem juntos o roteiro (indicado ao Oscar) de Antes do Pôr-do-Sol. 9 anos depois do primeiro encontro, Jesse e Celine se encontram em Paris e dialogam sobre o que aconteceu durante o hiato de tempo, as realizações e frustrações que surgiram nesse meio tempo. O final incrivelmente aberto já dava sinais de que eles poderiam querer reviver a magia novamente.



9 anos depois, em 2013... Antes da Meia-Noite é lançado no Festival de Sundance e já começa a fazer burburinho. A excitação dos fãs e grande para ver o que aconteceu com o casal, que agora está na Grécia e aparentemente juntos e com outras questões para discutir, viver e reviver.

 Cédrik Klapisch em 2002 filmou Albergue Espanhol, um filme magnífico que colocava num mesmo apartamento em Barcelona um grupo de estudantes de diferentes nacionalidades européias, e radiografava ali as diferenças culturais e regionais que por vezes atrapalhavam a convivência, contrastando com o sentimento de União Européia, que estava se firmando na época (e continua tentando atualmente).

 Em 2005 veio Bonecas Russas. Em determinado momento de Albergue Espanhol o protagonista Xavier (Romain Duris) é indagado a respeito do que ele imagina que estará fazendo dali a 5 anos. Bonecas Russas se passa exatamente 5 anos depois de Albergue, e tenta responder essa intrigante pergunta. Boa parte do elenco retornou para mostrar a vida pós academia, a fase onde a alegria estudantil dá lugar ao duro choque da vida real.



 Os dois filmes tiveram passagens na trama por Paris, Barcelona, Londres e São Petesburgo. E parece que em 2013 a próxima parada será a América, mais precisamente Nova York. Esse deve ser o cenário de Casse-tête Chinois, que traduzido deve ficar Quebra-cabeça Chinês. Além de Romain Duris, Audrey Tautou (Martine), Kelly Reilly (Wendy), Cécile De France (Isabelle) e Kevin Bishop (William) estão confirmados no elenco.

É sempre complicado reviver personagens tão queridos, especialmente pelo fato de todos os filmes citados serem magníficos,  sempre existe o medo de que a terceira parte de ambas cineséries possam estragar o que já estava perfeito. Por outro lado a ansiedade é enorme para reviver seus dramas, cada um a sua maneira, e enxergar na tela o crescimento desses personagens ao mesmo tempo em que enxergamos como num espelho a nossa própria evolução durante todos esses anos em que os acompanhamos.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Ligando os Pontos

          
 Quando pensamos em referência, geralmente já pensamos naquilo que encontramos no fim dos trabalhos acadêmicos, onde se listam as obras utilizadas para compor o texto, ofertando minuciosamente os dados sobre os livros ou artigos consultados caso o leitor possa querer consultá-los.

 O cinema também é cheio de referências, e um filme também utiliza referências e influências dos mais diversos tipos para compor seu roteiro, mesmo que não as liste depois nos créditos finais. Dificilmente algo é tão original que não se inspire em absolutamente nada o que já foi feito. Por vezes as referências são indiretas e obscuras, mas também podem ser explícitas ou mesmo servirem como uma espécie de homenagem.


 
 As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower, EUA, 2012) foi um dos meus filmes favoritos do ano passado. Singelo, honesto e extremamente cativante; a trama nos remete a uma série de lembranças deliciosamente saudosistas para quem já foi um adolescente "normal" (leia-se: inseguro, sonhador, retraído e problemático). Ao contrário de tantos outros filmes americanos que retratam essa fase da vida, As Vantagens de Ser Invisível vai fundo em algumas questões tabu (em especial a sexualidade) sem nunca perder a naturalidade. O que vamos na tela faz com que realmente nos identifiquemos pois os personagens são reais, críveis.

 O diretor Stephen Chbosky (também autor do roteiro e do livro em que o filme se baseia) reune uma série referências dos anos 70 e 80 em especial na trilha sonora (maravilhosa) para rechear o filme. Mas também faz uso na trama de um filme em particular: Rocky Horror Picture Show.

Eu já tinha ouvido falar de Rocky Horror Picture Show, especialmente pelo fato de ser estrelado por Susan Sarandon, uma de minhas atrizes favoritas. A questão é que nunca tive real interesse em ver o filme até assistir As Vantagens de Ser Invisível, onde os personagens remontam cenas do musical de 1975. Resolvi alugar o filme depois disso.

Aparentemente os dois filmes pouco tem a ver um com o outro, mas a questão da sexualidade que o As Vantagens aborda com certeza casa com o espírito de liberdade sexual que Rocky Horror tão bem nos apresenta, numa mistura empolgante e hilariante de músicas, comédia e um toque de nonsense.

 E após rever Rocky Horror Picture Show, ele me trouxe a memória um outro filme que, tenho certeza, se inspirou nele em algum momento: Hedwig - Rock, Amor e Traição. Após o espírito libertário da década de 70, o cinema gradualmente nas décadas de 80 e principalmente 90 foi ficando cada vez mais careta. Eis que John Cameron Mitchell, com certeza influenciado por este espírito provocativo, fez em 2001 este maravilhoso musical que assim como Rocky Horror também apresenta um protagonista sexualmente dúbio e cheio de magnetismo. 

 Assistir filmes por vezes é muito mais do que apenas se distrair e passar o tempo. Quanto mais assistimos, mais podemos fazer conexões, interligar fatos e conhecer mais não apenas sobre o próprio cinema em si, mas também sobre nós mesmos e a sociedade em que vivemos.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Oscar 2013



E chegou o momento da verdade. E das polêmicas! As indicações ao Oscar 2013 mal saíram e já foram bombardeadas com um sem número de acusações das mais diversas partes.

 A verdade é que todo ano é a mesmíssima coisa. Sempre existem injustiçados, filmes lançados em épocas ruins que acabam sendo esquecidos e uma série de outros fatores. Esse ano houve ainda o acréscimo da votação online e antecipação da data de votação no já sempre temperado caldo de indicados.

Alguns, como a nossa ilustre correspondente Ana Maria Bahiana, acreditam que essa mudança de data (anterior ao resultado das listas dos Globos e Sindicatos) é prejudicial e fez com que muitos entregassem votos em branco. Mas sejamos francos, o que é melhor? Uma premiação baseada em cópias de outras premiações ou uma votação (mesmo que reduzida) de membros que realmente assistiram os filmes e se mobilizaram para escolher seus favoritos com base em uma opinião verdadeira (a de quem realmente assiste os filmes)? Eu voto pela segunda opção.

2012 também calhou de ser um ano rico. Tivemos muitos filmes bons, incluindo blockbusters como Batman e Avengers. O cinema também está cada vez mais globalizado, produções como Intocáveis figuraram entre as 15 maiores bilhereriais mundiais do ano (mais de 400 milhões) e Amor, que desde o festival de Cannes não parou de fazer barulho. Vale ressaltar que da lista dos 9 filmes houve com certeza uma melhoria em relação ao ano anterior, que tinha dois filmes fracos, Tão Forte e Tão Perto e Cavalo de Guerra. Até a categoria animação foi a melhor seleção de 5 indicados de todos os prêmios este ano, com ParaNorman e Piratas Pirados entrando no lugar do péssimo A Origem dos Guardiões.

Mas sempre fica faltando algo né? Esse ano, por exemplo, pela própria qualidade da safra poderíamos ter tido 10 indicados a Melhor Filme, com O Mestre e principalmente Moonrise Kingdom completando a lista. O Vôo poderia facilmente ceder suas duas indicações para John Hawkes (As Sessões) e Looper em roteiro original. As Vantagens de Ser Invisível também merecia muito mais uma indicação em roteiro adaptado do que As Aventuras de Pi. O ganancioso O Hobbit poderia ceder todas suas indicações para o corajoso A Viagem. Ben Affleck não ser indicado como diretor em Argo também é quase inaceitável, assim como Kathryn Bigelow por A Hora Mais Escura. Mas são coisas que acontecem.

 Acho que o bacana é que entre mortos e feridos nenhum filme de qualidade duvidosa foi indicado esse ano, o que sempre é algo muito bom e raro de acontecer. E assim temos mais um Oscar repleto de polêmicas, acusações de injustiça e muita expectativa.

 Que fevereiro chegue logo!!!!

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Livro x Filme: A Vida de Pi



Bom, desprezemos o fato de que a distribuidora nacional alterou o título nacional do filme para "As Aventuras de Pi", pois essa mudança em nada acrescenta, pelo contrário, fez a editora mudar a o nome do livro  na capa da nova edição (algo muito, muito errado).

Há muito tempo que eu vinha tentando comprar o livro, mas nunca tive sucesso. Nunca o achei em algum sebo ou com um preço bacana em alguma livraria. Com a chegada iminente do filme, contudo, tive que me apressar. Não costumo ler um livro depois de ver um filme, pois para mim perde toda a graça.

Vamos pular a polêmica envolvendo o livro, de que ele seria um plágio da obra  "Max e os Felinos" do escritor brasileiro Moacyr Scliar. Antes de falecer o escritor tinha colocado um ponto final nessa história, então não vale a pena voltar a esse assunto. Mas vale ressaltar que Yann Martel escreveu a obra há mais de 10 anos e depois disso nunca mais ninguém ouviu falar do autor, que lançou mais um livro que aborda animais (Beatriz & Virgílio) que fez sucesso nulo.

Em minha opinião após a leitura fica claro que Yann Martel realmente não é mesmo um escritor brilhante. Se o conceito e as ideias no livro são espetaculares, a realização deixa um pouco a desejar. A prosa sofre um pouco com falta de fluência e algumas discussões e assuntos abordados não levam a lugar nenhum.

Ressalto especialmente a questão religiosa, que Martel aborda sem desenvoltura e que não utiliza a contento no decorrer da trama.  Por outro lado ele consegue com êxito demonstrar a importância dos animais na vida de Pi, especialmente o tigre Richard Parker, co-protagonista da trama.

 Já o filme de Ang Lee (que assumiu o projeto depois de várias baixas e problemas criativos) consegue com inteligência impressionar pelo visual magnífico e pela lição de vida como um todo que a obra nos apresenta, sem se focar muito nos detalhes, fazendo passar despercebidos as minúcias da obra. 

Vale ressaltar que o filme abraça um pouco melhor a questão da religiosidade e do sentimento de perda e solidão de Pi. Por outro lado o roteiro minimiza um pouco a relação de Pi com Richard Parker, tornando-a uma relação mais de medo, perigo e trapalhadas e menos de adoração, admiração e aprendizado que o livro trata de forma inteligente. E tanto o livro quanto o filme escorregam na tentativa de discutir a surrealidade dos fatos, de contrapor a realidade da imaginação. As simbologias e as questões que vão além da razão ficam meio que à deriva em ambos os suportes.

No geral o filme consegue impressionar um pouco mais pela utilização incrível do visual 3D e dos efeitos especiais. Mas ambos possuem problemas estruturais, que de certa forma comprometem a relação de cumplicidade do espectador e/ou leitor com o personagem Pi. Um erro fatal no livro, que o filme sabiamente minimizou ao máximo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

007 - 50 Anos e a Cada Dia Mais Jovem



Em 2012 James Bond, ícone da cultura pop e cinematográfica completa 50 anos nos cinemas.  Tudo começou com "007 Contra o Satânico Dr. No" de 1962, que trouxe o que muitos consideram o melhor intérprete de  James Bond de todos os tempos, Sean Connery. Hoje, após George Lazemby, Roger Moore, Timothy Dalton e Pierce Brosnan viverem seus dias de espião, Daniel Craig está firme e forte no posto de agente mais famoso a serviço da Rainha.

"Skyfall" celebra os 50 anos de James Bond no cinema de forma brilhante. Traz inúmeras referências da série em sacadas bacanas, com cenas de ação espetaculares, um vilão excepcionalmente bom (Javier Bardem, impecável), duas Bond Girls classudas e consistentes, uma participação de destaque de M (Judi Dench, extraordinária como sempre) e possivelmente o diretor mais talentoso e premiado a assumir a direção de um filme da série, Sam Mendes. Além disso traz inovações, renovações e dá a franquia um ar moderno e contemporâneo.

Mas vale ressaltar que "Skyfall" só conseguiu isso graças ao trabalho iniciado brilhantemente em "Cassino Royale" de 2006, o primeiro filme de Daniel Craig como Bond. Os produtores entenderam que para renovar a série não bastava mudar apenas o intérprete, mas que também era preciso modernizar as tramas, efeitos e a base da série como um todo.

Quando Pierce Brosnan foi escalado nos anos 90 a série já estava em baixa. A partir de então o orçamento começou a aumentar para evitar que as produções tivessem cara de telefilmes. Artistas mais conhecidos (Judi Dench entra na série junto com Brosnan) foram chamados para dar uma força dramática e ampliar o interesse pelos filmes. Mas as tramas ainda soavam um pouco datadas, os efeitos meio toscos e os aparatos usados pelo personagem meio ridículos, quase cômicos. O último filme de Brosnan como Bond, "Um Novo Dia Para Morrer" iniciou timidamente esta mudança.

"Cassino Royale" aniquilou a aura datada e cafona. O James Bond dos anos 2000 foi pensado para ser mais parecido com Jason Bourne, com uma pegada mais física, lutas corporais e tramas mais complexas. Pela primeira vez na série também uma Bond Girl conseguiu ter uma relacionamento mais profundo com o espião, tanto que a sequência "Quantum of Solace" (2008) ainda explorou ecos deste relacionamento entre Bond e Vesper (Eva Green). Aliás o filme de 2008 não foi muito bem recebido exatamente pelo fato de que James Bond estava tentando ser muito Jason Bourne.

"Skyfall" chegou para equilibrar as arestas e comprovar de fato que a série está mais do que nunca dentro dos eixos, com uma roupagem moderna e muita disposição para continuar interessando atores, diretores e roteiristas de renome. O resultado nas bilheterias em todo o mundo de "Skyfall" comprovam que a série e o personagem, apesar de cinquentões, ainda tem muito a oferecer.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Temporada de Prêmios 2012/2013 - Preview

E mais um final de ano se aproxima, e com ele os grandes lançamentos mirando a temporada de prêmios que ano que vem será mais cedo, Globo de Ouro em janeiro e Oscar em fevereiro.

Algumas coisas já estão estreando, e outras logo vão chegar aos cinemas brasileiros após a passagem do Festival do Rio (e só ele, já que a Mostra SP abdicou de mesclar filmes intelectuais com os grandes lançamentos e agora ficou um evento cabeçudo e cheio de reprises). Abaixo algumas coisitas que já assisti e algumas apostas com as datas previstas de estreia.

                                                            Moonrise Kingdon

Um filme delicioso e talvez a obra mais madura de Wes Anderson, sempre um diretor muito observado que após um período de altos e baixos aqui encontrou o tom perfeito entre sua originalidade e a aura de universo paralelo de suas histórias. É visualmente incrível, charmoso e divertido sem fazer muito esforço.  Grandes chances em diversas categorias. Em cartaz desde 12/10.

Ruby Sparks - A Namorada Perfeita

O novo projeto dos diretores de "Pequenas Miss Sunshine" tem um ponto de partida original, porém já retratado em outras obras. Mas o roteiro de Zoe Kazan, que também interpreta a Ruby em questão no filme, é sagaz ao mostrar metaforicamente que escrevemos a nossa vida e queremos mudar os personagens contidos nela quando algo sai errado, mas as vezes quem precisa ser reescrito somos nós mesmos, e não os outros. Meio confuso? O filme não chega a tanto, mas dá margem para pensar. O que não é pouco. Grandes chances de ser indicado para melhor roteiro original. Em cartaz desde 12/10.

Os Miseráveis

O famoso livro que já foi adaptado antes para o cinema vai tentar voltar como um grande musical, com produção requintada, diretor novo e premiado (Tom Hooper, de O Discurso do Rei) e Anne Hathaway soltando a voz. Russel Crowe, Helena Bonhan Carter e Hugh Jackman completam o elenco. Previsão de estreia: Março 2013.

Django Livre

Tarantino volta aos holofotes com um western recheado de suas referências cinematográficas, Leonardo DiCaprio caracterizado como nunca e algumas figuras de sempre (Samuel L. Jackson). O trailer não empolgou muito, mas Tarantino é sempre Tarantino. Previsão de estreia: Janeiro 2013.

The Master

Paul Thomas Anderson tem aqui aparentemente a grande chance de se consagrar após quase conseguir com Sangue Negro, mas merecer mesmo a glória por Magnólia. A história aqui perpassa questões delicadas como fé, religião e passados traumáticos. Joaquin Phoenix e Philip Saymour Hoffman duelam ferozmente para ver quem sairá com a estatueta dourada nas mãos. Amy Adams provavelmente conseguirá sua quarta indicação ao Oscar como coadjuvante. Previsão de estreia: Fevereiro 2013.

Argo

Ben Affleck após dois filmes aclamados como diretor (Medo da Verdade e Atração Perigosa) vem como tudo esse ano com esse thriller político extremamente aclamado pela crítica americana. Estreia em 9 de Novembro 2012.

Hitchcock

Não botava muita fé nessa adaptação de um livro que revela os bastidores das filmagens de Psicose, a obra máxima do diretor. Porém ao ver o trailer, pressinto grandes possibilidades. Anthony Hopkins parece finalmente ter achado algo capaz de lhe desafiar após Hannibal Lecter, e está muito bem acompanhado por Helen Mirren. Um argumento curioso aparentemente muito bem realizado. Previsão de estreia: Março 2013.

Silver Linings Playbook

Vencer o festival de Toronto é o maior pedigree que um filme pode ter para sair na frente na corrida do Oscar. Eleito o melhor filme do festival, este drama cômico familiar traz Robert De Niro novamente em um papel digno, além dos novos queridinhos Jennifer Lawrence e Bradley Cooper. O diretor é David O. Russell, o mesmo de O Vencedor. Ainda sem previsão de estreia no Brasil.

Ficar de olho também: A Vida de Pi (Ang Lee sempre vale uma espiada, em dezembro), A Viagem (os diretores de Matrix e o diretor de Corra Lola Corra no filme de ficção mais ambicioso do ano, em dezembro), Promised Land (Gus Van Sant e Matt Damon juntos novamente), Anna Kerenina (Joe Wright e Keira Knightley juntos novamente, em fevereiro), Zero Dark Thirty (a caça a Bin Laden é o foco da ganhadora do Oscar Kathryn Bigelow), O Impossível (o tsunami de de 2004 é revisitado por Naomi Watts e Ewan McGregor num drama familiar de superação, em dezembro) e To the Wonder (Terrence Malick novamente).

sábado, 22 de setembro de 2012

A Arte Acessível



Uma das maiores qualidades de um filme ou de qualquer obra artística é conseguir arrebatar um público grande sem ter de apelar para a obviedade. Vez por outra surge algo assim, capaz de agradar tanto o cara da periferia quanto um executivo milionário. "Intocáveis" (Intouchables, França, 2011) é por excelência um desses exemplares raros, e ainda mais raro pelo fato de discutir esta questão durante o desenrolar da trama.

 Existe um abismo entre a arte extremamente erudita e as obras popularescas. Seus respectivos adeptos usualmente repelem o lado oposto por uma série de questões; entre elas culturais, financeiras, espirituais... Sair do popular e avançar para o erudito ainda é mais possível, pelo fato de quanto mais cultura a pessoa consome, mais ela tende a expandir seus horizontes. Já o sentido reverso é muito mais difícil de ser trilhado, já que quem aprecia o erudito acaba se tornando preconceituoso com o popular.

"Intocáveis" não tenta soar como uma lição de vida, apesar de ter todas as chances para o fazer. É um filme que basicamente retrata aqueles raros momentos na vida onde duas pessoas que aparentemente nada tem em comum se reconhecem e se completam, são perfeitas uma para a outra. E por se gostarem e se complementarem, acabam assimilando aquilo de bom que um tem a oferecer ao outro.

 O paraplégico Philippe passa a enxergar em Driss as possibilidades de apreciar o lado mais divertido da vida, o prazer de dançar ao som de um ritmo brega do passado e rir do politicamente incorreto. Já Driss vai assimilando aos poucos o olhar para a arte e para coisas mais refinadas. Até o momento em que ambos chegam ao meio do caminho, e aí "Intocáveis" já te ganhou por completo pelo fato do o próprio filme conseguir esta proeza de transitar entre esses dois mundos.

PS: Tentei rememorar alguns filmes que atingiram este nível de aceitação e me recordei de alguns, entre eles "O Labirinto do Fauno", "Cidade de Deus" e "A Vida dos Outros".

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Marilyn X Marilyn



O mito ainda pulsa forte na mídia, na mente e nos corações dos cinéfilos e apaixonados pelo glamour de uma figura tão impregnada de magnetismo. O cinema ainda não produziu um mito capaz de derrubar Marilyn Monroe.

Assisti "Sete Dias com Marilyn" há tempos atrás e fiquei bastante curioso e desapontado ao mesmo tempo. A atuação de Michelle Williams é bastante precisa no ponto mais central no que diz respeito a personalidade de Marilyn. É incrível como uma atriz tecnicamente tão fraca, incapaz de decorar poucas linhas de texto e completamente insegura conseguia, ao mesmo tempo, soar tão natural e vívida na tela após ser filmada. Era realmente uma espécie de mágica, que o filme explora a contento retratando e revivendo as filmagens de "O Príncipe Encantado" com Laurence Olivier.

É bem verdade que o filme perde muito de sua força ao querer emplacar um romance tolo e sem muita inspiração entre Marilyn e o jovem e promissor assistente contratado pelo estúdio. Ao perder tempo com o romance, o filme enfraquece o estudo a respeito de Marilyn apesar do esforço de Williams, que constantemente nos lembra com sutileza o carisma e dualidade que Monroe tinha nas telas e também em sua vida particular.

Curiosamente logo após ter visto o filme ganhei de presente um box com três filmes da atriz e assisti "Como Agarrar um Milionário". Pude comprovar neste filme que a premissa de "Sete Dias com Marilyn" é realmente verdadeira. Tudo bem que a trama de Como Agarrar um Milionário não é lá grandes coisas, e Marilyn não chega nem a ser a protagonista. Mas quando ela está em cena, seu jeito deliciosamente atrapalhado aliado ao seu charme e beleza fazem com que você não repare em seus defeitos e sua falta de técnica, mas apenas em suas qualidades e atributos.

E por conseguir tal feito, ela foi e continua sendo um mito. Só nos resta reverenciar.

domingo, 22 de julho de 2012

Diretores que Amamos

  
Retrospectiva Pedro Almodóvar 

Da irreverência e maluquices do início dos anos 80, passando pela consolidação e reconhecimento internacional no fim dos anos 90 e seu ápice no inícios dos anos 2000; Pedro Almodóvar é um dos cineastas mais aclamados e obrigatórios do cinema mundial. Abaixo, uma pequena retrospectiva de sua carreira com minhas breves impressões a respeito dos filmes que vi do diretor.

- Pepi, Luci, Bom (1980) é seu primeiro filme lançado nos cinemas, onde o orçamento foi bancado graças a donativos e dinheiro emprestado de amigos. É um filme que denota o lado trangressor de Almodóvar, com nudez e falas abertas sobre drogas e sexo. Como história em si, é confusa e demonstra a falta de experiência do diretor. Marca o início de sua parceria com Carmen Maura.

- Labirinto de Paixões (1982) com uma história igualmente absurda e recheada de personagens polêmicos (uma ninfomaníaca, um terrorista gay); Almodóvar aqui já foi capaz de criar uma história mais coêsa, apesar de ainda um pouco confusa. Cecilia Roth e Antonio Banderas se tornariam figuras frequentes na filmografia do diretor.

- O Que eu Fiz Para Merecer Isso? (1984)  com este filme Almodóvar começa a observar a vida das mulheres, seus anseios, desejos e amizades; algo que mais tarde se tornaria sua marca registrada. Carmen Maura novamente encabeça o elenco junto com a hilária Chus Lampreave.


- A Lei do Desejo (1987) traz um Almodóvar bastante seguro e ainda mais polêmico: um romance gay e uma protagonista transexual envoltos numa trama que mistura comédia, romance e um pouco de suspense. Um roteiro certamente mais maduro do que seus antecessores.


- Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos (1988) é seu primeiro sucesso internacional e comercial. Traz aquela pitada de frescor e ousadia de seus primeiros filmes aliados a um roteiro mais inteligente e personagens marcantes. Foi durante as filmagens deste filme que Almodóvar se desentendeu com Carmen Maura e ambos romperam a parceria.


- Ata-me (1990) uma tentativa de reprisar a aura cômica do filme anterior com pitadas de sexo e romance. Considero uma de seus filmes mais fracos.


- De Salto Alto (1991) outro filme não muito inspirado de Almodóvar, que traz ao menos um interessante embate entre Marisa Paredes e Victoria Abril.


- Kika (1993) é um dos filmes mais surreais do diretor, uma comédia despretenciosa que traz a incrível Rossy de Palma em seu melhor trabalho com o diretor. Verónica Forqué faz aqui uma variação de sua personagem de O que eu Fiz Para Merecer Isso?


- A Flor do Meu Segredo (1995) acredito que foi com este filme que Almodóvar começou a trilhar um caminho mais sério e investir mais em roteiros densos e personagens com um viés mais dramático. Marisa Paredes está brilhante como Leo, e o filme claramente traz ideias que Almodóvar viria a utilizar em seus filmes posteriores.


- Carne Trêmula (1997) foi outro filme que demonstra a mudança de estilo de Almodóvar, que abandonou aqui completamente qualquer vestígio cômico com uma história pesada e personagens depressivos.


- Tudo Sobre Minha Mãe (1999) é para muitos sua obra-prima. Fico meio em dúvida se é mesmo seu filme mais completo, mas é com certeza a grande virada de sua carreira em um filme que une tudo o que ele tem de melhor: personagens femininas marcantes, dramas e uma pitada de comédia com uma de suas personagens mais incríveis: Agrado. Oscar de filme estrangeiro.


- Fale com Ela (2002) um outro filme elogiadíssimo e que manteve o diretor no topo. Oscar de Melhor Roteiro e indicado também como Melhor Diretor, Almodóvar aqui além de mudar o foco pela primeira vez para personagens masculinos, também introduz no filme seus amigos Pina Bausch e Caetano Veloso em participações lindamente poéticas.


- Má Educação (2004) traz novamente o foco para o universo masculino. Não foi muito bem recebido por muita gente, mas inegavelmente traz uma temática corajosa e a trama com um toque de noir que não deixa de ter seu charme.


- Volver (2006) é o seu maior sucesso comercial em termos de bilheteria, marca também três retornos: novamente o foco nas mulheres, a parceria com Penélope Cruz, que aqui apresenta a melhor atuação de toda sua carreira num papel marcante e também a volta de Carmen Maura, quase 20 anos depois do desentendimento entre ambos. Por todos esses fatores, é com certeza um filme muito especial.


- Abraços Partidos (2009) mais um filme do diretor que flerta com o noir, numa trama repleta de idas e vindas. Penélope Cruz novamente dá conta do recado e o filme se mostra extremamente maduro, apesar de soar um pouco frio.


- A Pele que Habito (2011) retoma as fortes emoções dos filmes do diretor, numa trama milimetricamente construída e repleta de suspense e humor negro. Antônio Banderas volta a trabalhar com o diretor após um longo hiato de 20 anos.


 São filmes diferentes e que flertam com diversos gêneros, porém a assinatura do diretor foi se firmando ao longo dos anos, e de 1999 para cá Almodóvar têm mantido um nível artístico altíssimo. 


Em 2013 teremos "Os Amantes Passageiros", que promete retomar a pegada das comédias escrachadas do início de sua carreira. Vamos ver o que Almodóvar irá nos trazer desta vez.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Woody Allen e seu tour pela Europa



A priori não foi por vontade própria, mas sim por incentivos financeiros que Woody Allen começou seu tour pelo velho continente. A verdade é que o início dos anos 2000 foram bastante ruins para o diretor, que amargou quatro fracassos comerciais e de crítica consecutivos (O Escorpião de Jade, Dirigindo no Escuro, Igual a Tudo na Vida e Melinda e Melinda). Desgastado, em 2005 foi para Londres e filmou Match Point, que muitos consideram o ponto alto de sua fase mais atual.

Particularmente acho Match Point um filme interessante, mas o melhor da nova fase de Woody ainda estava por vir. Com o sucesso comercial e de crítica do filme, o diretor rodou todos os seus filmes posteriores com dinheiro, locações e investimento europeu (excluindo Tudo Pode dar Certo de 2009, um pequeno desvio em sua amada NY).

Além de Match Point, Woody Allen rodou na Inglaterra mais três filmes. Scoop, trouxe um Woody claramente fazendo aquele humor rasteiro que ele muitas vezes em sua filmografia utilizou, aqui com pitadas de suspense e um pouco de absurdo. Foi um sucesso apenas relativo e não agradou muito os críticos. O Sonho de Cassandra, drama familiar que traz um pouco da tônica de Interiores e do próprio Match Point, foi um fracasso absoluto de bilheteria nos EUA e não empolgou muita gente. Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos também não foi um grande sucesso, em parte porque exemplifica que apesar de rodado fora de NY, todos esses filmes rodados na Inglaterra poderiam se passar em qualquer outro lugar. O meio não influenciou a história e não trouxe elementos novos para a filmografia do diretor, que continuou fazendo o seu bom e velho mais do mesmo.

Veio então, em 2008, seu primeiro grande acerto no seu tour europeu, Vicky Cristina Barcelona. O romance com pitadas cômicas trouxe Barcelona como um elemento fundamental para a trama, que pouco lembra qualquer filme anterior do diretor. Bastante sensual e muito madura no tratamento das relações, a fita foi um sucesso e trouxe novamente os holofotes para Woody Allen após seu último grande êxito, Match Point.

Em 2011 veio então o maior sucesso comercial da carreira do diretor e possivelmente seu filme mais elogiado dos últimos 20 anos, Meia-Noite em Paris. Novamente a cidade título desempenha um papel todo fundamental na trama, que traz um humor refinado e referências a um sem número de personagens históricos da literatura, artes e cinema. Trouxe também aquela magia outrora utilizada em A Rosa Púrpura do Cairo, e rendeu o quarto Oscar na carreira de Allen, num hiato de mais de 20 anos após sua última vitória com Hannah e Suas Irmãs.

E 2012 já traz uma nova trama, "Para Roma com Amor", que visto na sequencia de Meia-Noite em Paris pode parecer um tanto quanto decepcionante, mas se apreciado sem a responsabilidade de comparações, é um belo exemplar do descompromisso e do humor popularesco do diretor combinados com a magia de Roma e um tantinho do modo de vida dos italianos.